Poeta das Imagens

Joel Silva, além de homônimo do histórico repórter de guerra que escrevia para os Diários Associados, é o melhor fotojornalista que já conheci. E não só pelas imagens fora do comum que ele emplaca nas capas da Folha de S.Paulo, mas pelo talento para notícia.
Ele podia esnobar com tanta coisa boa que já produziu (cobriu a guerrilha na Colômbia, o acidente da TAM de 2007 e a tensão política em Honduras no ano passado, sem contar o prêmio Vladimir Herzog que levou em 2009 por uma emocionante reportagem sobre a cana), mas preferiu ser um cara generoso - uma verdadeira raridade neste mundo de ego que é o jornalismo.
Sem formação acadêmica, o Joel entrou para a fotografia depois de muitas outras profissões e passou por jornais lendário como o Notícias Populares. Se deu tão bem com uma máquina nas mãos, que levou outros três irmãos para a carreira (o Edson e o Silva Jr, que estão na Folha Ribeirão, e a irmã deles, Wanezza Soares, que também entrou para o grupo Folha e é a atual editora de fotorafia do jornal).
Conheci o Joel quando tinha 17 anos. Fui fotografada por ele para uma matéria (eu era personagem de uma história da Folha Ribeirão sobre voto não-obrigatório) e fiquei surpresa quando ele começou a mudar o sofá de lugar na minha casa para conseguir um enquadramento melhor.
Até então, eu achava que o fotojornalista não intervia nas imagens, apenas registrava. Anos depois, já na faculdade, eu procurei o Joel para dizer que decidira pela fotografia.
Bacana como sempre, ele conversou com a Eliane Silva, que é a editora-chefe da Folha Ribeirão (e não é irmã do Joel, apesar do sobrenome), e conseguiu que eu acompanhasse o trabalho dele por uma semana. Peguei bem os dias seguidos aos ataques do PCC, ou melhor, os resquícios dessa batalha que tomou conta do Estado (e também de Ribeirão) em 2006.
Mas a melhor lição ainda estava por vir. No ano seguinte eu consegui uma vaga de repórter na Folha Ribeirão. Do outro lado da reportagem, eu vivenciei o quanto o Joel entendia que uma matéria não se faz sozinho: ele entrevistava junto, sugeria abordagens, fazia imagens para criarmos matérias em cima e até derrubava a apuração quando via que não ia rolar ou quando faltava respeito com os jornalistas. Um verdadeiro furacão.
Não existe um taxista de Ribeirão que não tenha o Joel como referência de jornalista - e ele saiu da cidade há quase três anos. Quando foi para a redação de São Paulo, ficou um vazio no jornal e em todas as pessoas que ele ajudou ou cultivou amizade.
Encontrei ótimos profissionais de foto depois do Joel, mas ninguém que tivesse o mesmo espírito. Depois dele, nunca mais vi um fotógrafo dar uma sugestão de pauta complexa ou que conseguisse uma foto diferente e exclusiva mesmo estando junto de um milhão de outras câmeras.

 Ontem descobri que o Joel resolveu multiplicar pela internet um pouco do conhecimento dele e montou um Flickr com as melhores imagens. Por conta disso, resolvi deixar esta homenagem. O link vai ficar no blog, ali na barra à direita. Quem quiser acessar deste post mesmo, é só clicar aqui.

Abaixo, uma das minha favoritas do Joel, que para ilustra mais uma matéria de calor, criou esta imagem poética e batizou de "Ícaro".

PS: Vou procurar na minha bagunça a matéria do voto e escanear a minha foto by Joel Silva para colocar aqui para vcs só para fazer fusquinha.