Wilson Toni

Completou ontem 5 anos da morte do jornalista Wilson Toni. Polêmico, o Toni ficou conhecido por bater a Globo pela primeira vez (e por muito tempo) no interior de São Paulo e por comandar uma das maiores (e mais bagunçadas) estruturas de jornalismo da cidade, o grupo Verdade.


Eram oito equipes com carro cobrindo notícias policiais e de cidades da região para TV, Rádio e Impresso.  Muitos dos jornalistas não tinham formação na área e tudo funcionava tendo o Toni como ponto de referência.


Fui estagiária do Verdade e participei diretamente dessa lógica maluca que o Toni criou. Cheguei a vê-lo demitir a equipe inteira pela manhã para depois recontratar todo mundo no final da tarde. Vi o Toni adiantar pagamento sem dar baixa, fechar grandes contratos de publicidade e interferir diretamente na política da cidade.

Muita gente queria que ele saísse prefeito (teve até campanha com adesivos por "um prefeito de Verdade"), mas ele ria e dizia que era muito melhor ser para sempre mídia de oposição.

O Verdade tinha uma academia de ginástica para os funcionários (criada para agradar as mocinhas do "núcleos da Sete Mulheres", que eram quatro) e até - outro detalhe do jornal é que havia muita mulher bonita contratada.Tinha um refeitório com almoço grátis para todos (e que ajudava o Toni a  fazer ao menos uma refeição balanceada por dia).

Uma vez eu ganhei até um vale-salão-de-beleza num lugar super chique. O Toni distribuiu para as repórteres porque uma das sete mulheres comentou que elas não estavam bem arrumadas no ar - no meu caso, nunca gravei uma passagem, só pequenas entrevistas com médicos para um quadro de perguntas e uma matéria com narração (eu morria de vergonha!), mas ele disse que era para todas as garotas.

Minha maior suspeita era de que o Toni não dormia. Chegava às 4h na Rádio, saía meia-noite do jornal e do eventos promovidos pelo grupo, como o Beleza Verdade (que no começo bem poderia ter sido chamado de Feiúra Verdade, tão absurdas eram algumas candidatas).

Sei que às vezes ele ficava só rodando de carro. Eu trabalhei lá nas férias (porque estudava em Bauru), ia aos finais de semana à rádio, e participei disso por mais de um semestre.

O Toni era meio doido, mudava de opinião toda hora, mas era inteligente e eu gostava de conversar com ele ou, simplesmente, de ouvir ele falar com os outros. Era aula de política, jornalismo, geografia (sim, ele sabia de cor o nome de todas as ruas de Ribeirão), história, tudo junto.

O Toni não lia telepronter na TV, nem roteiro na rádio. Antes de conhecê-lo e vê-lo nos estúdios, eu jamais diria isso (na TV, perdia toda a expressão e, pessoalmente, nunca dava na cara o que estava pensando).

Digitava rápido. Falava sempre da época que foi secretário do Quércia e do Centrinho da USP, que ajudou a levar para Bauru. Era formado em jornalismo e direito e dava aulas. Foi um dos vereadores mais votados da cidade. Tinha uma mãe que parecia um anjo de tão educada e um pai que jogava sinuca com o pessoal da redação (sim, tinha uma mesa no jornal).

Eu não concordava sempre com o Toni. Sempre fui questionadora e não gosto de "jeitinho", troca de interesse ou sensacionalismo. Detesto sangue, que era o principal assunto no jornal. Alguns dizem que a cidade está melhor sem o "circo do Toni".

Mas sinto falta do Verdade e de seu dono-apresentador.

Acho que Ribeirão perdeu muito com a morte dele. Sem o Toni, acabou tudo em pouco tempo. Houve muita falcatrua na divisão dos bens e um monte de amigo interesseiro começou a mostrar a cara - fora o tanto de profissionais sem brilho que aproveitaram o vácuo deixado.

O jornalismo ficou mais empresarial na cidade, a rádio AM menos popular. Gente menos capacitada entrou no ar para imitar algo que não tinha fórmula.

Costumo dizer que Toni era o nosso Assis Chateaubriand - com todos os defeitos e qualidades que isso pode representar. E quase nada do que ele fez para a história do jornalismo e dos meios de comunicação está documentado.

Hoje ele é nome de viaduto e de conjunto popular de moradia. Mas pouco se escreveu sobre ele e, com certeza, ainda devemos uma biografia dele à altura. Prova disso é que todo mundo que trabalha ou trabalhou em jornalismo na região há cinco anos ou mais (seja jornalista, fotógrafo ou cinegrafista) tem uma história do Toni ou do Verdade para contar.

Duvida? Então comece a perguntar.

Wilson Toni em bancada do Verdade. Fonte: Autoria não identificada.